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sábado, 13 de fevereiro de 2010

A arte de ler... e reler - O Leitor Pinhalense - nº 003

GABRIEL PERISSÉ*
Quem relê o verbo reler de trás para
frente, relê reler novamente

Reler é verbo insistente, que não
tem medo de bicho papão nem de repetição.
O próprio verbo reler é um duplo
ler, pois se eu leio reler de trás para
a frente ele fi ca exatamente igual: é
reler pra cá... reler pra lá...
A releitura é ler de novo o que já é
velho, encontrando novidades que
só podem estar ocultas no que todo
mundo viu, mas não percebeu.
Faltou releitura.
Releitura é deixar de ser “analfabeto
para as entrelinhas” (Guimarães
Rosa) e captar o que estava lá, mas
a pura leitura não soube fi sgar, peixe
fugidio, lebre arisca, raio de sol.
Releitura cura superfi cialidade.
Releitura faz bem aos olhos.
Releitura de manhã ajuda a pensar.
Releitura à noite protege contra pesadelos.
A releitura é como a água, tanto bate
até que fura... nosso medo de entender.
Leia de novo: re-lei-tu-ra. De novo:
re-lei-tu-ra.
De que vale ao homem ter muitos
livros se não tiver tempo para reler?
Reler devagar, reler palavra por palavra,
letra por letra, degustando cada
milímetro de casa signifi cado?
Reler não é chupar uma laranja de
novo. O milagre da releitura é que
sempre há mais suco na segunda vez.
E mais suco ainda na terceira.
Reler é a arte de voltar ao mesmo lugar
como se fosse pela primeira vez.
Reler é remar no mesmo mar como
se fosse pela primeira vez.
Reler o anel que tu me deste era vidro
e se quebrou, o amor que tu me
tinhas era pouco e se acabou. Será?
Mas se era pouco não era amor.
Reler é reatar a infância.
Reler é entrar de novo na ciranda,
ciranda cirandinha, vamos todos cirandar,
vamos dar a meia volta, volta
e meia vamos dar, vamos nesta rua,
nesta rua, e nesta rua tem um bosque
que se chama, que se chama solidão,
dentro dele mora um anjo, que roubou,
que roubou meu coração.
Reler é reatar passado-presente-futuro.
Samba Lelê ta doente, ta com a cabeça
quebrada. Samba Lelê precisava...
é de umas boas lambadas. Fui no
Itororó beber água, não achei, mas
achei bela morena que no Itororó deixei,
aproveita, minha gente, que uma
noite não é nada... e se não dormir
agora... dormirá de madrugada.
Ah, como é bom reler e reouvir essas
velhas canções, que nos fazem fi -
car um pouco mais novos.

* Gabriel Perissé é professor, com doutorado em
Filosofi a da Educação pela USP, autor dos livros “Ler,
pensar e escrever” (Ed. Arte e Ciência), “O Leitor
Criativo (Omega Editora), “O professor do futuro” (Thex
Editora) e “Palavras e origens” (Editora Mandruvá)
e mantém o site www.perisse.com.br, que “O Leitor
Pinhalense” recomenda.

“O Leitor Pinhalense” agradece o apoio e as palavras
do escritor Gabriel Perissé quando de sua autorização
para que pudéssemos publicar o texto “A
arte de ler... e reler”: “...obrigado pela mensagem e
parabéns pela iniciativa a favor da leitura! Será uma
honra ver meu artigo publicado por vocês”.

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