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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Pinhal Antigo - O Leitor Pinhalense - nº 004

Mais uma edição e mais uma vez a presença do
livro “Nossa Terra Nossa Gente”, do historiador Ernesto
Rizzoni, pinhalense ilustre que muito contribuiu
para a construção da história de nossa Espírito
Santo do Pinhal. As notícias aqui reunidas
foram publicadas, originalmente, no jornal “Diário
de Campinas”, na segunda metade dos anos de
1880 e compiladas por Ernesto Rizzoni, no livro
“Nossa Terra Nossa Gente”, publicado no início
dos anos de 1960.
Na última edição de “O Leitor Pinhalense” foram
transcritas notícias publicadas no “Diário de
Campinas” entre 7 de março e 28 de abril de 1887.
Nesta edição, ao contrário do fi zemos até aqui, vamos
transcrever apenas o artigo publicado no dia
1° de junho de 1887, que, sob o título “À luz dos
lampiões”, “descreve a origem e fundação desta
cidade”.

 
Rua "Direita" (José Bonifácio): Flagrante da vida
pinhalense no início do século XX


1° de junho de 1887
À luz dos lampiões
Consoante prometera, o Maneco do
Correio reuniu domingo último o nosso
grupo, a fi m de descrever a origem e
fundação desta cidade:
- É interessante observar –começou ele
– como os acontecimentos se desenrolaram
no sentido da criação e progresso
das comunidades.
No princípio é o sertão, a mata indevassada
ou o deserto, o silêncio opressor
ou a solidão, até surgir o homem na
sua sede de conquista, no seu anseio de
domínio.
Vence ou morre na certeza que outro
virá para vingá-lo ou consolidar sua posição.
Aventureiros que perlustraram esta
região, arranchavam-se aqui e ali, e alguns,
diante da uberdade do solo, fi cavam.
Construíam sua cabana com mais
capricho, delimitavam uma área de terra
e cultivavam-na.
Tempos depois surgiam outros, apossavam-
se das terras devolutas ou mesmo
daquelas já ocupadas e, pela força ou
mediante pagamento, tornavam-se os
novos senhores.
Assim, em tempos recuados, formavam-
se os territórios, os arraiais, as povoações,
as vilas e as cidades.
Na época em que se desenrolam estes
acontecimentos – prossegue Maneco –
nosso território, composto de várias propriedades
agrícolas, constituía a parte
oriental do município de Mogi-Guaçu,
da comarca de São José de Mogi-Mirim.
Ainda não estava consolidado para alguns
o direito às propriedades das quais
eram ocupantes por aquisição dos primeiros
desbravadores, que as possuíam
por direito de conquista, o por não
serem julgados hábeis os documentos
obtidos por falta de formalidades essenciais.
Daí surgirem as divergências como as
que estavam em curso na época em que
ocorreram estes fatos.
Estávamos no ano de 1849. Vários
eram os possuidores do nosso território
nesse ano e poucas as propriedades
existentes. Sobressaiam, pela área, as
fazendas Sertãozinho e Pinhal, essa coberta
de densos pinheirais, que lhe emprestaram
o nome.
Romualdo de Souza Brito, m dos donos
da fazenda Pinhal, propriedade que
vinha sendo disputada por diversos colonizadores
da fazenda Sertãozinho, ignora-
se a que título, iniciando certa vez
a derrubada dos pinheiros existentes no
atual largo da Matriz, para o plantio de
milho, foi obrigado a interromper o serviço
em virtude dos gritos de desafi o e
dos tiros de espingarda e de trabuco que
lhe foram dirigidos.
Espírito Profundamente religioso e
equilibrado, Romualdo foi tomado de
súbita inspiração. Declarou que não
mais faria a roça, mas doaria das suas
partes uma área de quarenta alqueires
de terras ao Divino Espírito Santo, para
patrimônio, e a fi m de que, no mesmo
lugar onde ocorrera o incidente, fosse
erigida uma capela.
Em 27 de dezembro de 1849, pelo então
notário de São João da Boa Vista,
José Antônio de Abreu e Silva, foi lavrada
a escritura, na qual fi guravam como
doadores Romualdo de Souza Brito e sua
mulher D. Teresa Maria de Jesus e donatário
o Divino Espírito Santo, para o
estabelecimento do patrimônio.
O acontecimento não foi bem recebido
pelos turbadores, que procuraram,
antes da transcrição, anular a escritura,
bem como provocar distúrbios, iniciando
derrubada de mato e construindo
benfeitorias nas terras doadas, quando
dois desastres, atribuindo a causas sobrenaturais,
fi zeram cessar as hostilidades
que cada dia mais se agravavam.
Estava uma menina a peneirar milho,
quando ocorreu desprender-se o espeque
que segurava o madeiro do monjolo,
matando-a. Na mesma ocasião, um
carpinteiro caiu de um andaime, vindo
a falecer dos ferimentos recebidos.
Essas ocorrências – concluiu o Maneco
– conjugadas a outras anteriormente verifi
cadas, foram recebidas como castigo
do céu, infl uindo de maneira relevante
para serenar os ânimos, consolidar a doação
feita e decidir da sorte da povoação
nascente.

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