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sábado, 23 de janeiro de 2010

Leia esta canção - Marcha para os Canteiros - O Leitor Pinhalense - nº 005


Versos da poetiza Cecília Meireles inspiram o desavisado Fagner a compor uma das mais belas músicas da MPB

Cecília Meireles: autoria resgatada
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Por: J. Oswaldo Cardoso

Muitas pessoas conhecem a música e a letra da canção Canteiros, de Raimundo Fagner. Mas boa parte dos amantes da música desconhecem a história que se formou a partir da simples inspiração nos versos do poema Marcha, de Cecília Meireles. Uma verdadeira novela envolvendo o cantor e compositor e as filhas de Cecília Meireles, herdeiras de seus direitos autorais, se arrastou por alguns anos.
Pouco depois do início da ação judicial em 1979, Fagner declarou ter se inspirado nos versos de Cecília Meireles para compor Canteiros. O processo se arrastou por duas décadas, terminando em 1999, quando a Sony Music fez um acordo com as herdeiras da poesia de Cecília Meireles para a regravação de Canteiros. A nova versão da música aconteceu no início de 2000 – já com os devidos créditos à Cecília Meireles – e foi incluída no disco Raimundo Fagner – Ao vivo.
A seguir, o poema Marcha, de Cecília Meireles, fonte inspiradora de Fagner. Em seguida, a letra de Canteiros, já “traduzida” e adaptada para o formato musical.

Marcha

Cecília Meireles

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a idéia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.

Fagner: processado pelas irmãs Meireles durante 20 anos

Canteiros
Raimundo Fagner (sobre poema de Cecília Meireles)


Quando penso em você
Fecho
os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração.



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